autismo
AUTISMO
Silvia Elena Tendlarz
Vivemos em um mundo mutável /em mudança, cheio de imprevistos, presságios tornados destino, contingências que nos conduzem a desenlaces inesperados. Por fora de toda previsão, um encontro pode deslizar-nos para outros confins. Este fora da norma, dos ideais que outrora nos orientavam a lugares conhecidos, muda inexoravelmente o laço com os outros.
Isolamento, dificuldades de comunicação, distâncias móveis –demasiado perto, demasiado longe-, empuxe a gozos solitários, tudo isto traduz uma ruptura e, ao mesmo tempo, a persistência repetitiva em sociedades paradoxalmente cambiantes. Assim, o termo ‘autismo’ toma a dianteira e se torna o significante privilegiado para nomear o espírito da época. Autismo generalizado, em consonância com uma metamorfose do simbólico no século XXI que empuxa ao gozo autoerótico, mas que nem por isso fica sem laço com o outro.
O autismo, na realidade, é mais conhecido nesta época pela epidemia diagnóstica que afeta as criança de acordo com sua especificidade clínica. Desde sua criação no início do século XX como uma forma da esquizofrenia (Bleuler), passando por sua vinculação direta às crianças pequenas através do autismo infantil de Kanner e da Síndrome de Asperger nos anos 40, sua expansão nos anos 80 com os Manuais Diagnósticos, até seu verdadeiro estouro com os trastornos dos espectros autistas de século XXI, o autismo não parou de crescer.
Sua raridade já não é tão grande. A campanha de detecção precoce para crianças pequenas é feita em forma de distintos questionários para pais, enfermeiras, visitadoras sociais, professores e demais profissionais com distintas escalas de classificação. Tudo isso expressa a pressa por situar uma enfermidade que se considera incurável junto a sistemas educativos que suprem o “déficit” com comportamento.
Não podemos mais que nos surpreender que seja justamente aos individuos, que levam ao extremo a “falta de comunicação”, a quem se exija com afinco uma