Aurora - Uma verdade inconveniente
Se a teoria de que um filme pode induzir atos de violência é válida, como explicar a inexistência de assassinatos em massa diante de filmes muito mais violentos como “Kill Bill” e “Assassinos por natureza”? Mais ainda, se um filme tem realmente tamanho poder de sugestão, não poderíamos simplesmente resolver o problema da violência, parafraseando o antropólogo Paulo Ribeiro, submetendo as pessoas a horas de audiência de “A Noviça Rebelde”?
Entretanto, a principal falha da “teoria do filme gerador de violência” é que esta desconsidera o fato científico de que não se pode forçar uma pessoa a praticar um ato contrário à sua natureza, mesmo num cenário de hipnose profunda. Se acrescentarmos a isso o fato que a arte, em geral, caracteriza um perfil da sociedade para a qual é produzida, veremos que as causas da violência nos EUA está em aspectos de sua cultura, conforme retratado no documentário “Tiros em Columbine”, de Michael Moore (2002).
Segundo Moore, a sociedade americana é dominada pelo medo (de todo tipo), facilmente manipulável e firmemente convicta de que a solução é eliminar literalmente (matar) aquilo que os amedronta, sejam problemas reais ou imaginários. Se acrescentarmos a estes fatores a pressão pelo reconhecimento social a qualquer preço e a facilidade de acesso a armas e munições, teremos as condições ideais para muitos episódios como o de Aurora ou Columbine.
Portanto, o massacre de Aurora é apenas um reflexo de um terrível descompasso psicológico