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Um caso de discriminação genética: o traço falciforme no Brasil
CRISTIANO GUEDES
DEBORA DINIZ
RESUMO
Este artigo discute um caso de discriminação genética envolvendo uma atleta brasileira de voleibol identificada como portadora do traço falciforme. O traço falciforme é uma das características genéticas mais prevalentes na população brasileira, mas não é descrito como uma doença genética. O avanço da genética clínica vem provocando uma popularização dos testes genéticos em diferentes contextos de promoção da saúde. Ao criticar o argumento da
Confederação Brasileira de Vôlei de que o exame para o traço falciforme seria uma medida de proteção à saúde dos atletas, o objetivo do artigo foi demonstrar como a popularização da informação genética não pode prescindir do aconselhamento genético e de garantias éticas. A análise mostrou que a exclusão da atleta da seleção oficial de vôlei não se justificou por medidas de proteção à saúde, mas por discriminação genética.
Palavras-chave: discriminação genética; traço falciforme; anemia falciforme; ética; esportes.
Recebido em: 24/04/2007.
Aprovado em: 25/07/2007.
PHYSIS: Rev. Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 17(3):501-520, 2007
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Cristiano Guedes e Debora Diniz
Introdução1
O último século foi marcado pelo avanço de pesquisas no campo da
Genética Clínica e mais recentemente pelas descobertas do Projeto Genoma
Humano. Muitas doenças e marcadores genéticos foram identificados, embora se tenha avançado pouco em relação à cura ou à terapia gênica. A anemia falciforme, uma doença que altera as hemoglobinas e dificulta o transporte de oxigênio pelo organismo, foi identificada pelo médico James Herrick, em 1910, e descrita por biologia molecular nos anos 1950 (WILKIE, 1994; WAILOO, 2001;
ROCHA, 2004; FRY, 2005). As pessoas com anemia falciforme são aquelas cujo sistema circulatório apresenta dificuldades para transportar o