As origens do poder
“Faça um sistema social o que fizer, tem de ter qualquer meio de garantir a segurança do relacionamento entre mãe e filho, pelo menos até ao ponto em que a criança adquire mobilidade independente e seja capaz de sobreviver com uma probabilidade razoável de chegar à idade adulta.”
Isto era o que os antropólogos Lionel Tiger e Robin Fox escreviam em 1971, e o senso comum aprova. Já em 1949 a antropóloga Margaret Mead dizia, por seu lado: « A dada altura no dealbar da história humana, surgiu uma invenção social segundo a qual os machos começaram a cuidar das fêmeas e das suas crias. » A “invenção” (imagino eu) deve ter-se robustecido com a fixação duma notável “descoberta”: a de um nexo estável de causalidade entre a relação sexual e seus efeitos na gravidez e no aparecimento de uma criança com traços semelhantes aos do seu único progenitor masculino.
Eva deixava de ser admirada apenas como a “Mãe dos Vivos”, para passar a ser também a mãe dos filhos de um determinado homem. (Cf. na “Eva” bíblica o reconhecimento exarado no cap. 4, 1 do livro do Genesis, talvez a memória de antiguíssima tradição cultural advinda do “dealbar da história”.) E eis o que o “sistema social” tem em toda a parte: um conjunto de normas que regulam e reforçam as relações de parentesco, tal que os pais biológicos ou os irmãos da mãe “garantam a segurança do relacionamento entre mãe e filho”. É a institucionalização da “família”, nas múltiplas figuras sociais desta, das quais a família nuclear é (como já Claude Lévy-Strauss reconheceu) a mais comum na humanidade.
Mas eu tenderia a inverter os termos: falaria antes na necessidade social ( e natural-biológica) de garantir a segurança do relacionamento entre filho e mãe. Assim, o controle e pressão social exerceriam no sentido de levar a mulher (no interesse do grupo), a aceitar o que um mero “instinto maternal” seria por si insuficiente para garantir: a aceitação dos desconfortos e riscos da gravidez, e o nascimento