As mãos dos pretos
1) Biografia do autor
Luís Bernardo Honwana nasceu na cidade de Lourenço Marques (atualmente Maputo) em 1942. Cresceu em Moamba, no interior, onde o seu pai trabalhava como intérprete. Aos 17 anos foi para a capital estudar jornalismo. O seu talento foi descoberto por José Craveirinha, famoso poeta moçambicano. Em 1964, Honwana tornou-se um militante da Frente de Libertação de Moçambique(FRELIMO) que tinha como propósito conseguir a libertação de Moçambique de Portugal. Devido às suas atividades políticas, foi preso em 1964 e permaneceu encarcerado por três anos pelas autoridades coloniais. Após a independência, Honwana foi alto funcionário do governo e presidente da Organização Nacional dos Jornalistas de Moçambique. Desempenhou também funções de diretor do gabinete do Presidente Samora Machel e Secretário de Estado da Cultura.
Publicou, em 1964, um livro de contos intitulado Nós Matamos o Cão Tinhoso, uma das obras mais marcantes da literatura moçambicana.
2) Apresentação do conto
As mãos dos pretos
Já não sei a que propósito é que isso vinha, mas o Senhor Professor disse um dia que as palmas das mãos dos pretos são mais claras do que o resto do corpo porque ainda há poucos séculos as avós deles andavam com elas apoiadas ao chão, como os bichos do mato, sem as exporem ao sol, que lhes ia escurecendo o resto do corpo. Lembrei-me disso quando o Senhor Padre, depois de dizer na catequese que nós não prestávamos mesmo para nada e que até os prelos eram melhores do que nós, voltou a falar nisso de as mãos deles serem mais claras, dizendo que isso era assim porque eles, às escondidas, andavam sempre de mãos postas, a rezar.
Eu achei um piadão tal a essa coisa de as mãos dos pretos serem mais claras que agora é ver-me a não largar seja quem for enquanto não me disser por que é que eles têm as palmas das mãos assim mais claras. A Dona Dores, por exemplo, disse-me que Deus fez-lhes