as margens da alegria
GUIMARÃES ROSA: AS MARGENS DA ALEGRIA
Raimundo Dalvo Costa
Quando escrevo, repito o que já vivi antes.
E para estas duas vidas, um léxico só não é suficiente. Em outras palavras, gostaria de ser um crocodilo vivendo no rio São Francisco. Gostaria de ser um crocodilo porque amo os grandes rios, pois são profundos como a alma de um homem. Na superfície são muito vivazes e claros, mas nas profundezas são tranqüilos e escuros como o sofrimento dos homens.
(Guimarães Rosa).
RESUMO: Este trabalho discute o conto de Guimarães Rosa “As margens da alegria”, mostrando a estória de um menino que viaja com seu Tio e Tia para uma cidade e lá vive momentos de alegria, tristeza e transformação correlacionada com a mudança histórica no espaço e tempo vivido em Brasília.
Palavras-chave: menino, cidade, peru, mudança.
O que é “As margens da alegria” senão proporcionar prazer, desejos por algo, alguma coisa nova que pode trazer tristeza, dor ou alegria. Este título criado por Guimarães Rosa tem tempo e espaço, e estes fazem parte de quem cria a estória. O tempo e o espaço das “Margens da Alegria” são o momento vivido e sentido pelo autor depois da sua viagem a Brasília na década de 50.
Analisar este conto, escrito na terceira pessoa, significa buscar outras leituras que não apenas o estado emocional do personagem principal, que é o “Menino”, mais tudo que o cerca como uma cidade em mudança a qual, aos olhos de um menino, causa estranheza. Essa cidade
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é Brasília. Esse menino se comunica com outras pessoas, percebe uma paisagem cercada de natureza sendo modificados pela ação do homem, que destrói árvores, animais, modos de vida e sonhos de crianças. Este é um menino no mundo material, concreto e histórico e não apenas emocional. “Esta é a estória. Ia um menino, com os tios, passar dias no lugar onde se construía a grande cidade [...]” (p.49). Em 1958, Guimarães Rosa vai a Brasília quando esta se encontrava em construção e, em 1962,