Artigo Ua 3
Este artigo argumenta que se, por um lado, Brasil e Índia apresentam significativas diferenças como sociedades e Estados, o que explicaria o histórico isolamento recíproco, caracterizado pela fragilidade de vínculos políticos e econômicos,1 por outro, situam-se numa categoria especial quando se examina o conjunto de países que constituem a periferia do sistema político e econômico capitalista mundial.
Essa categoria, a que pertenceriam a Índia e o Brasil, e a que denominamos nesse artigo de "grandes países periféricos", defronta-se com um cenário internacional, resultado de um longo processo histórico, organizado em torno do que são conceituadas, no artigo, como "estruturas hegemônicas de Poder".
O artigo descreve as características desse cenário, suas contradições principais, as estratégias de preservação e expansão de poder daquelas estruturas hegemônicas e, por fim, sugere objetivos estratégicos que o Brasil e a Índia, como grandes países periféricos, deveriam procurar atingir. Os desafios para os grandes países periféricos são superar tanto as vulnerabilidades externas quanto as disparidades internas e construir a democracia real e, assim, serem capazes de vir, ou virem, a integrar aquelas estruturas ou deixarem de estar a elas subordinados. O dilema é que ou enfrentam esses desafios, e para tal terão um relacionamento complexo, tenso e difícil com aquelas estruturas, ou permanecerão em situação de crescente inferioridade, devido à concentração de poder econômico, político e militar, e enfrentarão um processo de desagregação econômica interna, de instabilidade política e de eventual fragmentação territorial.
Contrastes: Brasil e Índia
Brasil e Índia são sociedades e Estados que exibem extraordinárias diferenças. A Índia é uma sociedade de civilização oriental, multimilenar e consolidada; já o Brasil é uma sociedade de raízes ocidentais, recentíssima e em formação. Ambas sujeitas ao impacto ininterrupto das idéias, dos costumes e das políticas