Artigo economico
Rodolfo Hoffmann • 169
Polarização da distribuição de renda no Brasil
Rodolfo Hoffmann*
Resumo: Considerando tanto a distribuição do rendimento do trabalho por pessoa ocupada como a distribuição do rendimento domiciliar per capita no Brasil, de 1987 a 2005, mostra-se que há uma tendência de redução da bipolarização. Verifica-se que a medida de polarização de Esteban e Ray (1994) calculada para os mesmos dados, usando grande número de estratos, capta, essencialmente, a formação de picos na distribuição, associados à tendência de as pessoas declararem valores redondos para seu rendimento e ao fato de o salário mínimo ser ou não um número redondo, em dezenas ou centenas de unidades monetárias. Palavras-chave: polarização, distribuição de renda, desigualdade. JEL: D31, D39, D63.
1. Introdução
Figueirêdo et al. (2007) afirmam, com base nas PNADs de 1987 a 2003, que ocorreu substancial aumento da polarização na distribuição da renda no Brasil, associando esse resultado com o “fenômeno de desaparecimento da classe média” (p. 8). Verifica-se que a “polarização” captada pelos autores é, essencialmente, um problema estatístico associado à tendência de as pessoas declararem o valor do rendimento em números redondos, combinado com o fato de o salário mínimo ser um valor mais ou menos redondo. Verifica-se, também, que medidas de bipolarização mostram tendência de diminuir no período, havendo forte correlação entre essas medidas e o índice de Gini.
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Professor do Instituto de Economia da Unicamp, com apoio do CNPq. Esse artigo foi submetido para publicação na Revista Brasileira de Economia em julho de 2007 e em março de 2008 o autor foi informado de um parecer desfavorável, indicando que o trabalho deveria ser “extremamente resumido” e re-submetido. Em seguida foi submetido para publicação em Econômica. O autor agradece as sugestões de dois pareceristas desta revista. Professor da Universidade Estadual de Campinas; Cidade Universitária Zeferino Vaz -