Capim anoni
Capim vira praga no Sul do Brasil
O anoni - que inflama as gengivas no boi - entrou no País em sacos de sementes importadas e se alastra pelo RS, PR e SC
Beth Melo
O trânsito de material vegetal exige cautela, pois pode colocar em risco a atividade agropecuária e o ambiente. Caso de um capim de origem africana, introduzido no Rio Grande do Sul pelo produtor Ernesto José Annoni, que importou da Argentina, em 1950, sementes de rhodes contaminadas com o capim que depois foi batizado como seu nome. 'Ele percebeu o viço da planta comparado às pastagens nativas, passou a cultivá-la e a vendê-la', afirma a pecuarista gaúcha Nara Fauth Pereira, da Estância Boa Vista da Quinta.
Já o arquipélago Fernando de Noronha está infestado pela leguminosa Leucena leocucephala, introduzida nos anos 50 em um projeto ambiental e como forrageira para a alimentação animal, e já começa a ter problemas com a jitirana (Ipomeia sp), leguminosa trepadeira que cobre a copa das árvores, impedindo-as de respirar, matando-as.
NOS PAMPAS
Segundo Rafael Zenni, assistente científico do Programa de Espécies Exóticas Invasoras para a América do Sul da ONG ambiental The Nature Conservancy (TNC), há uma versão de que o capim teria vindo junto com sementes de outras espécies importadas, e outra, de que foi introduzido por meio das fezes de gado argentino que entrou no País sem quarentena. 'A planta já ocupa quase 2 milhões de hectares nos pampas, de onde se espalhou, no rumem dos animais, e avança por Santa Catarina e Paraná', alerta.
'Muitas fazendas estão tomadas pelo anoni, que acabou com as pastagens nativas', sentencia o veterinário Felipe Guerra, da Fazenda Santo Antonio, em Livramento (RS), um projeto de cria, recria e engorda de hereford e braford, que começa a sentir a competição do capim.
Aqui, o problema não é só ambiental, mas econômico. 'Por ser bastante fibroso, o anoni fica preso entre os dentes do animal, causando inflamação