Arquivologia

A seca fazia sofrer por mais um ano a população da cidade de Trindade. Os povoados localizados na zona rural eram os que mais sofriam com a falta de chuva para molhar o chão que não sabia mais o que era água. Francisco, sertanejo sofrido, olhava com olhos cheios de lágrimas para a sua plantação e só lamentada, pois o milho estava mais seco do que a terra rachada pelo sol escaldante do lugar, o feijão nem chegou a crescer e a macaxeira criava raízes fracas que ao serem arrancadas do solo só aumentava o penar do agricultor. Os poucos animais que resistiram encontravam-se enfraquecidos e magros, somente a espera da morte que rondava com frequência a pequena propriedade de Francisco.
Nas proximidades existia um antigo açude feito pelo maior proprietário de terras da região, mas a escassez era tanta que o reservatório estava totalmente seco. Isso não chegava ser um problema para os donos do lugar, esses abasteciam seus reservatórios regularmente pagando caminhões pipas para levarem água para os seus animais e plantação. Ninguém da família do latifundiário sabia o que era fome, pouco sabia sobre aqueles que padeciam a poucos quilômetros das suas terras. O que predominava era o descaso com a dor do outro, não importava se as crianças chorassem já quase sem forças por não terem o que comer. No desespero Francisco pede emprego na porta da fazenda e ouve um não como resposta. Ao ver os netos do dono da fazenda correrem felizes, ele se pergunta, por qual motivo meus filhos não podem ser felizes? O que eu fiz para merecer tanta desgraça? Sem obter resposta ele volta cabes baixo pra casa.
Voltando a pé pela estrada que leva a sua casa ele questiona qual o motivo da sua existência, a vida nunca foi piedosa, sempre o maltratou e por mais que ele tentasse mudar a sua própria história, tomando as rédeas da sua vida, as condições materiais do mundo o sufocavam, levando mais uma vez a uma condição miserável. Se enganando, ele pensa, que a vida vai melhorar, a chuva voltará a cair,