Aracy Amaral
Bien
Bienais ou
Da impossibilidade de reter o tempo
internacional de são paulo
ARACY AMARAL é historiadora da arte, professora titular aposentada da FAU/USP, tendo sido diretora do
Museu de Arte
Contemporânea da USP. É autora de, entre outros,
Tarsila – Sua Obra e Seu
Tempo.
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ARACY AMARAL
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elancólica a exposição comemorativa das Bienais de São Paulo no Parque Ibirapuera, mostra que percorri constrangida pelo nível, em museografia espantosa, verdadeiro parque de diversões, em cuja entrada em letras garrafais repetia-se em cartazes o nome do jornal patrocinador do evento sobrepondose estrondosamente à entidade que se pretendia celebrar – a Bienal de São Paulo por seus 50 anos. Se essa exposição expressa o que significa nossa criatividade atual nas artes visuais, então salto fora. Não pode ser, temos possibilidade de formular a apresentação de nossos valores fora do caos, ou paralelo a ele, com dignidade, sem perda de fervor ou qualidade. Na verdade, esse evento não passou de uma exposição coletiva de arte contemporânea, e nada mais. Até artistas de elevado nível com bons trabalhos, uns poucos, diluíam-se na geléia geral dessa mostra, e nem deveriam ter aceito dela participar. É difícil a um artista rejeitar convite para participar de uma exposição: é a possibilidade de mostrar seu trabalho, que é sua vida, sua trajetória.
Porém, freqüentes vezes, por gesto político, por ética, por um mínimo de coerência, deveriam declinar quando o evento é comprometedor. Uma artista que aceitou participar confiou-me ter sido o convite para o evento projetado como uma exposição de
“arte, arquitetura e design”. E não essa salada inqualificável que vimos de vídeos cansados no tempo e instalações e projetos tridimensionais de gigantismo que não conseguem justificar sua presença.
Essa mostra se intitulou pomposamente
“Bienal 50 anos/ Uma Homenagem a
Ciccillo Matarazzo”, o mecenas criador do
Museu