APONTAMENTOS SOBRE BOURDIEU
Li Bourdieu pela primeira vez em 2002, por ocasião da elaboração do projeto para seleção para o PPGCS: “A Dominação Masculina”, livro indicado pelo orientador, provocou em mim uma reação negativa. De imediato não gostei – mesmo reconhecendo tratar-se de um autor consistente, que sabia do que estava falando, havia alguma coisa que me fazia reagir negativamente ao seu texto. Preconceito? Em certa medida sim, com certeza. Afinal, o homem tratava de temas trabalhados pela psicanálise, sem tocar uma única vez no nome de Lacan! Até hoje, já tomada pelo texto “bourdieuano”, ainda me espanta que dois franceses de igual quilate em suas respectivas áreas, contemporâneos, habitando a mesma metrópole, não citem uma vez sequer, o nome do outro... Foi preciso um pouco mais de tempo, tempo de leituras, de um amadurecimento mínimo dentro do campo das ciências sociais, para que eu aprendesse a ler Bourdieu. Antes de compreendê-lo, fui tocada pelo brilho de sua inteligência e por seu estilo claro, embora não simples. O caráter subversivo de suas idéias, dentro de um campo ainda dominado pelo maniqueísmo de interpretações fáceis e obsoletas do texto marxista, é outro aspecto que acabou por fisgar-me completamente. Porque a subversão de Bourdieu de que falo aqui, diz menos respeito a uma militância diretamente política, e mais aos fundamentos de seus conceitos, seu método de trabalho, sua maneira de pensar o mundo: a ciência, a cultura, a humanidade em suas diferentes manifestações, singulares e sociais, subjetivas e objetivas. Passando uma vista d’olhos por sua obra, parece que Bourdieu disse alguma coisa sobre “tudo”, sobre muito, pelo menos. Seu olhar arguto, sua escuta sensível, lhe abriram perspectivas e fizeram com que ele definisse um campo onde se supunha não haver nada. À maneira de Freud, Bourdieu fez valer sua teoria, realizando leituras e re-leituras de vários fenômenos sociais, de diferentes manifestações culturais, fazendo