Análise d'O Recreio
Na minh’Alma há um balouço (a)
Que está sempre a balouçar – (b)
Balouço à beira de um poço, (a)
Bem difícil de montar… (b)
-E um menino de bibe (c)
Sobre ele sempre a brincar… (d)
Se a corda se parte um dia (e)
(E já vai estando esgarçada), (f)
Era uma vez a folia1: (e)
Morre a criança afogada… (f)
-Cá por mim não mudo a corda (g)
Seria grande estopada… (h)
Se o indez2 morre, deixá-lo… (i)
Mais vale morrer de bibe (j)
Que de casaca… Deixá-lo (i)
Balouçar-se enquanto vive… (j)
-Mudar a corda era fácil… (k)
Tal ideia nunca tive… (l)
“O Recreio” descreve a boa recordação que o sujeito poeta guarda de um tempo mítico, refletido no poema através do menino que balouça dentro de si. Todo o poema está repleto de antíteses entre as ideias: presente/futuro, criança/adulto, sonho/realidade, ilusão/desilusão, vida/morte. Esta dualidade de opostos incompatíveis está manifestada na ideia do balouço, isto porque o movimento que ele cria, ao andar para a frente e para trás, relaciona-se através da metáfora com a exposição que o sujeito poético concebe acerca do seu presente e a incerteza do seu futuro. Está também evidente na própria alternância entre as estrofes do poema, a transmissão da ideia de movimento. No início da terceira estrofe, nomeadamente do seu primeiro verso «se a corda se parte um dia» acontece a rutura entre os conceitos acima referidos. As primeiras duas estrofes retratam o passado contínuo onde o sujeito gostaria de estar ou permanecer, pois o sujeito poético nem vive o presente, vive distanciado de si e a única saída é o sonho, contudo esse tempo de sonho, de ingenuidade de vida é inconstante e duvidoso é um «Balouço à beira de um poço, / Bem difícil de montar». Após o primeiro verso da terceira estrofe ocorre uma alteração no sentido do poema, é como se o balouço estivesse a