Análise da Crônica Recriação - Veríssimo
Atividade Supervisionada
Crônica: Recriação
Recriação
Deus suspirou. Estava cansado. Há bilhões de anos, quando era mais jovem e ambicioso, a idéia de criar um Universo não lhe parecera absurda. Agora se arrenpendia. O empreendimento fugira ao seu controle. Não conseguia se lembrar nem de quantas luas tinha Saturno. Estava definitivamente ficando velho.
Olhou em volta da mesa de reuniões. Sua presença naquela Comissão de Recriação era dispensável. Como diretor presidente, tinha a última palavra, mas as decisões eram tomadas pela Sua assessoria. Aqueles jovens tecnocratas pensavam que tinham a resposta para tudo. Queriam tornar o Seu projeto mais moderno e dinâmico. Trabalho mesmo fora o d’Ele. Criara tudo literalmente do Nada. Eles nem eram nascidos. Mas paciência. Precisava acompanhar os tempos. Vetou a proposta do assessor de RP, para que todos se unissem numa oração, e mandou começarem os trabalhos. Odiava o puxa-saquismo.
- Quanto tempo levará a Recriação? – perguntou.
- Bem…
O coordenador hesitou. O Velho, como sempre, queria respostas simples e diretas. Com Ele era tudo luz, luz, trevas, trevas. Mas as coisas não eram mais tão simples.O direto da Divisão de Obras interveio:
- Precisamos fazer uma análise de custos. Depois, um organograma. Um fluxograma. Um…
- Eu fiz tudo em seis dias – interrompeu o diretor presidente. – E sozinho. Só descansei no domingo. No meu tempo não existia semana inglesa.
Lá vinha o Velho outra vez com suas reminiscências. Está bem, ninguém negava o Seu valor. Mas o tempo dos pioneiros já passara. Agora era o tempo dos técnicos. Dos especialistas.
- Acho que devíamos começar fechando a Terra – disse o diretor financeiro.
Aquele era um assunto delicado. O Velho tinha uma predileção especial pela Terra. Inclusive por questões familiares. mas Ele ficou em silêncio. O diretor financeiro continuou:
- Acho que a Terra já deu o que tinha que dar. Seus recursos estão esgotados. Não é mais