Antropologia
A metáfora das “raízes” concernente ao próprio título já se insinua querendo demonstrar que o intuito do autor é desvendar e analisar o que veio a se tornar a sociedade brasileira. É o estudo do princípio, da gênese, das “raízes” fincadas na Europa e que futuramente gerarão frutos na América. Não há caminho melhor, portanto, para começar um ensaio que busca definir o começo de toda a nossa estrutura social do que voltando a atenção para o continente europeu, mais especificamente o mundo ibérico. O primeiro capítulo de Raízes do Brasil, “Fronteiras da Europa”, consiste na busca pela caracterização da velha civilização europeia, na medida em que há uma tentativa de implantar sua cultura nas origens da sociedade colonial do Novo Mundo no início dos Tempos Modernos. O Brasil é visto por Sérgio Buarque, nesse sentido, como resultado da tradição viva da Península Ibérica – num primeiro momento tratada de forma geral, com a caracterização de uma cultura que lhe é própria, para posteriormente fragmentá-la e estabelecer diferenças entre Portugal e Espanha, principalmente no capítulo “O Semeador e o Ladrilhador” –, possuindo uma cultura adaptada da Europa. Essa cultura ibérica estaria pautada em muitos aspectos, dos quais a frouxidão da estrutura social e a falta de hierarquia organizada regeriam talvez a avalanche de outras características. Sérgio Buarque argumenta no sentido de demonstrar que “toda hierarquia funda-se necessariamente em privilégios” (p. 35), que acarreta a injustiça social. No entanto, a nobreza lusitana não é rigorosa nesse sentido, a ponto de ser a separação de classes sociais quase inexistente no Estado português (na medida em que nos outros países a mobilidade social é praticamente impensável). Tanto os portugueses quanto os espanhóis, no cenário europeu, representam uma peculiaridade quando se trata de mobilidade social, sendo