Antropologia
Professor de Sociologia da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra
POR UMA CONCEPÇÃO MULTICULTURAL
DE DIREITOS HUMANOS
As tensões da modernidade
Nos últimos tempos tenho observado com alguma perplexidade a forma como os direitos humanos se transformaram na linguagem da política progressista. De fato, durante muitos anos, após a Segunda Guerra
Mundial, os direitos humanos foram parte integrante da política da Guerra Fria, e como tal foram considerados pela esquerda. Duplos critérios na avaliação das violações dos direitos humanos, complacência para com ditadores amigos, defesa do sacrifício dos direitos humanos em nome dos objetivos do desenvolvimento – tudo isto tornou os direitos humanos enquanto guião emancipatório. Quer nos países centrais, quer em todo o mundo em desenvolvimento, as forças progressistas preferiram a linguagem da revolução e do socialismo para formular uma política emancipatória. E, no entanto, perante a crise aparentemente irreversível destes projetos de emancipação, essas mesmas forças progressistas recorrem hoje aos direitos humanos para reinventar a linguagem da emancipação. É como se os direitos humanos fossem invocados para preencher o vazio deixado pelo socialismo. Poderão realmente os direitos humanos preencher tal vazio? A minha resposta é um sim muito condicional. O meu objetivo neste trabalho é identificar as condições em que os direitos humanos podem ser colocados a serviço de uma política progressista e emancipatória. Esta tarefa exige que sejam claramente entendidas as tensões dialéticas que informa a modernidade ocidental. A crise que hoje afeta estas tensões assinala, melhor que qualquer outra coisa, os problemas que a modernidade ocidental atualmente defronta. Em minha opinião, a política de direitos humanos deste final de século é um fator-chave para compreender tal crise.
Identifico três tensões dialéticas. A primeira ocorre entre regulação social e emancipação