Antropologia da cidade
A compreensão do mundo contemporâneo tem sido um desafio instigante para a antropologia e a delimitação de subáreas, bem como o distanciamento entre elas, vem alterando de forma terminante o próprio fazer antropológico. Michel Agier não hesita em afirmar: “(...) não há duas antropologias, mas sim maneiras diferentes de fazer antropologia com objetos diferentes e, portanto, campos diferentes, maneiras de pesquisar diferentes” (p.192). A antropologia da cidade pode, assim, ultrapassar os domínios de uma antropologia urbana e alcançar o pensamento antropológico mais geral, e assim enriquecer teórica e metodologicamente a própria disciplina. Nesse sentido, faz-se necessário avaliar os potenciais e limites da contribuição da antropologia da cidade para um debate mais abrangente da própria antropologia, procurando, a partir dos estudos urbanos, mas para além de barreiras disciplinares, novos modos de ler estas realidades complexas. Ao mesmo tempo, devemos examinar as contribuições que a antropologia traz para a redefinição das cidades e das etnografias urbanas na investigação das práticas culturais contemporâneas.
Este é o projeto que Michel Agier procura defender no livro Antropologia da cidade: lugares, situações, movimentos: uma forma de conhecimento antropológico da cidade, tomando-a como lugar estratégico para pensar inúmeros temas antropológicos clássicos e atuais: relações de identidade, etnicidade, hibridação, territorialidade, globalização, lugares, fronteiras etc. Tal amplitude de temáticas leva Agier a observar as várias entradas do conhecimento urbano - saberes, espaços, situações, lugares, movimentos -, por meio das quais analisa as dinâmicas urbanas e o cruzamento das várias dimensões da cidade, realizando uma abordagem situacional, relacional e processual, que parte dos lugares e dos citadinos para compreender as situações de interação dos indivíduos urbanos nos seus respectivos contextos