Antes do Abade de L'Epée
O mesmo não aconteceu na época clássica. O filósofo Aristóteles, em 355 a.C. defendia que os que nasciam surdos, por não terem linguagem eram incapazes de raciocinar. Os surdos eram pessoas sem direitos já que não eram úteis à Polis e muitas vezes eram condenados à morte ou marginalizados juntamente com os doentes e os débeis mentais (Berthier, 1827). No entanto, em 360 a.C., o filósofo Sócrates considerou que era lógico e aceitável que os surdos comunicassem naturalmente utilizando as mãos, a cabeça e outras partes do corpo por estarem privados da audição. Podemos, assim, constatar que a forma de encarar a pessoa surda diferia não só entre as sociedades como entre os indivíduos.
Os romanos, muito influenciados em vários aspectos pelos gregos, também, viam o surdo como um ser demasiado imperfeito para pertencer a uma sociedade que perseguia a perfeição física e intelectual. Lucrécio escreveu um poema na sua obra Natureza das Coisas, em 30 a.C. referindo que os surdos não podiam ser instruídos nem a sua inteligência ser ensinada. No entanto, como em todas as sociedades, sabemos que o poder económico e o estatuto social fazia com que algumas pessoas fossem privilegiadas em relação a outras. Plínio, na sua obra História Natural (70 d.C.) refere-se a um Quintus Pedius, artista surdo bastante talentoso, filho de um cônsul romano que necessitou de uma autorização especial do imperador César Augusto para desempenhar a sua profissão.