Antecedentes intelectuais da sociologia
Pelo menos até o século 18, a maioria dos campos de conhecimento, hoje enquadrados sob o rótulo de ciências, era ainda, como na Antigüidade Clássica, parte integral dos grandes sistemas filosóficos. A constituição de saberes autônomos, organizados em disciplinas específicas, como a Biologia ou a própria Sociologia, envolverá, de uma forma ou de outra, a progressiva redefinição das questões últimas colocadas tradicionalmente pela reflexão filosófica, como a liberdade e a razão. Consideraremos brevemente algumas idéias cujo impacto foi marcante para a configuração das primeiras teorias sociais modernas.
Concomitantemente aos processos de ordem socioeconômica, mudanças culturais contribuirão para suplantar a concepção orgânica, dominante na Antigüidade e no período medieval, substituindo-a por correntes de pensamento de base individualista. A Reforma protestante, iniciada no século 16, foi um momento importante nessa trajetória. Ao contestar a autoridade da Igreja como instância última na interpretação dos textos sagrados e na absolvição dos pecados, a Reforma colocou sobre o fiel essa responsabilidade e, instituindo o livre exame, fez da consciência individual o principal nexo com a divindade. O espírito secular impregnou distintas esferas da atividade humana. Generalizou-se aos poucos a convicção de que o destino dos homens também depende de suas ações. Críticas à educação tradicional nas universidades católicas levaram à substituição do estudo da Teologia pelo da Matemática e da Química.
A crença de que a razão é capaz de captar a dinâmica do mundo material e de que a lei natural, inscrita no coração dos homens, pode ser descoberta espontaneamente vai ganhando força, deteriorando, aos poucos, os velhos princípios de autoridade - entre os quais os mantidos pela Igreja católica. Sobre essa base, toma-se mais fácil compreender a emergência do empirismo, do racionalismo cartesiano e o avanço das ciências