Amor e Sexo: Separação dos Conceitos
Se, na (nossa) sociedade do espetáculo, o poder das imagens mediadas tem poder incalculável e soberano perante as pessoas, não é exagero dizer que estas tem a capacidade de determinar o modo como nos relacionamos afetivamente uns com os outros. No campo da sexualidade, enxergamos esta mediação até com certa facilidade. Em “Pornificados - Como a pornografia está mudando nossas vidas”, Pamela Paul trabalha esta questão através do tema da pornografia, e discorre sobre como estamos mudando nossa visão sobre ela e sobre nossa própria aceitação enquanto indivíduos com desejos sexuais. Hoje, sexo e amor já não estão necessariamente vinculados. Ainda vivemos sob algum tipo de opressão a respeito do desejo sexual, isto é, em excesso ainda pode ser considerado uma patologia ou perversão, mas é fato que, após os “desvairados anos 1960”, como se refere Hobsbawm em “A Era dos Extremos”, a aceitação a respeito do tema é consideravelmente maior. De alguma forma a pornografia, bem como os discursos de amor-livre e a ideologia hippie, tem papel central neste processo. A que serve a pornografia? Bem, Pamela Paul, em sua pesquisa, diz que, principalmente para os homens, a pornografia é uma das “portas de acesso” para a descoberta da sexualidade, ainda na transição da pré-adolescência para a adolescência. Alguns dos depoimentos que a autora colhe dão conta de nos dizer que, antes de a pornografia ser trazida para o mainstream, era algo extremamente íntimo e pessoal. A primeira experiência com a pornografia, através de fotografias, quadrinhos ou desenhos, era também a primeira experiência verdadeiramente sexual de muitos meninos, vivenciada em momentos que ganhavam caráter rituaístico, ainda que compartilhados, por vezes, com outros meninos (vestiários de colégios ou dormitórios de acampamentos, como cita Paul). O caráter ilegal e pervertido, entretanto, era, além de evidente, crucial para a transformação da experiência em um grande rito