907960 Mito E Eros

5871 palavras 24 páginas
REFLEXÕES FILOSÓFICAS SOBRE O AMOR E O EROTISMO
Em: Aranha, Maria Lúcia. Filosofando. p. 319-328

Parte A: O Amor

1. O mito de Eros

As lendas gregas foram transmitidas oralmente, e por isso sofreram inúmeras modificações, resultando numa variação muito grande de interpretações e sentidos. Às vezes, uma figura mítica aparece em várias versões, sempre ricas de significados.
Na Teogonia de Hesíodo, as entidades que saem do seio de Caos  vazio da desorganização inicial  surgem por segregação, por separação. Até que nasce Eros, o Amor, força de natureza espiritual que preside a partir daí a coesão, a ordem do universo nascente.
No ciclo dos mitos olimpianos, Eros (Cupido, para os romanos), filho de Afrodite e Ares, é representado por uma criança travessa ocupada em flechar os corações para torná-los apaixonados. Mas ele próprio se apaixona por Psique (Alma). Afrodite, invejosa da beleza de Psique, afasta-a do filho e a submete às mais difíceis provas e sofrimentos, dando-lhe como companheiras a Inquietude e a Tristeza; até que Zeus, atendendo aos apelos de Eros, liberta-a para que o casal se una novamente.
Também entre os filósofos gregos persiste essa imagem mítica. Os pré-socráticos Parmênides e Empédocles se referem ao princípio do amor e do ódio que preside à combinação dos elementos entre si para formarem os diversos corpos físicos.
No diálogo de Platão O banquete, diversos oradores discursam sobre o que consideram ser o Amor. Aristófanes, o melhor comediógrafo da época, relata o mito segundo o qual, no início, os seres eram duplos e esféricos, e os sexos eram três: um constituído por duas metades masculinas; outro por duas metades femininas; e o terceiro, andrógino, metade masculino, metade feminino. Como ousas sem desafiar os deuses, Zeus cortou-os em dois para enfraquecê-los. Cada ser tomou-se então um ser fendido, e o amor reciproco se origina da tentativa de restauração da unidade primitiva. Como os seres iniciais não eram apenas bissexuais, é

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