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Nada é o que parece ser
Christian Ingo Lenz Dunker
A queda do muro de Berlim não representou a derrocada do comunismo nem o fim da história, muito menos a abolição da esquerda. Para a maior parte dos movimentos sociais e pensadores ligados à tradição crítica ou marxista, esse fato simbólico foi o pretexto que faltava para a formação e radicalização de um novo discurso. A revista britânica New Left Review foi um ponto de encontro para essa esquerda alternativa, que havia passado por sucessivas decepções: o humanismo marxista, a reação estruturalista de Louis Althusser, o ativismo maoísta, as inúmeras formas de troskismo, sem falar no socialismo real. A Nova Esquerda tem em comum a desconfiança do fetichismo do Partido, a crítica do economicismo marxista clássico e a recusa da concepção ingênua da ideologia considerada como uma espécie de erro cognitivo da consciência. No lugar soberano e onipotente do Partido, a Nova Esquerda se preocupa em mostrar a precariedade da noção de política em Karl Marx bem como sua ligação instável com políticas claras e definidas que deveriam ser seguidas em obediência silenciosa. No lugar do reducionismo econômico, a Nova Esquerda pretende redescrever a noção de classe, levando em conta o gênero, a cultura e o consumo, e não apenas o paradigma da produção. Finalmente, no lugar da ideologia, entram em cena complexas estratégias de desconstrução, crítica e resistência discursiva ao lado do reconhecimento de que faltaria ao marxismo clássico uma boa teoria sobre a subjetividade. É nesse contexto que surge a figura de Slavoj Žižek. Ele foi rapidamente percebido como alguém capaz de dar voz a essa renovação do marxismo com sua surpreendente releitura de Georg Hegel aliada a uma potente junção com conceitos do psicanalista Jacques Lacan. Žižek não é um pensador sistemático que nos convida para a arqueologia e a reconstrução de teses, ao gosto da prática universitária