ALONSO Angela
CONTESTAÇÃO:
o movimento reformista da geração 1870*
Angela Alonso
No Brasil de fins do Império formou-se o movimento da “nova geração”, assim autonomeado numa referência à juventude de seus membros.
Os intérpretes passaram depois, convencionalmente, a identificá-lo como “movimento intelectual da geração 1870”.
À primeira vista, a unidade geracional parece ser mesmo o único critério unificador deste movimento. Embora os intérpretes usualmente o subdividam conforme a adesão a correntes intelectuais européias — cientificismo, positivismo, liberalismo, spencerianismo, darwinismo social —, o retrato mais comum aponta um sincretismo, quando
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Este artigo resume o argumento de minha tese de doutorado em Sociologia, defendida em maio de 2000 na FaculDade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Agradeço os comentários dos professores José
Murilo de Carvalho, Élide Rugai Bastos, Eduardo Kugelmas e Sérgio Miceli, da banca examinadora, e especialmente ao meu orientador Brasílio Sallum Jr., pelo empenho destes cinco anos. Registro também meu reconhecimento ao GT de Pensamento Social Brasileiro da Anpocs, pela indicação para a publicação e pelas discussões de que meu trabalho muito se beneficiou.
Agradeço ainda o parecerista anônimo da RBCS e a leitura cuidadosa de sua editora, Argelina Figueiredo.
Sou grata especialmente a Fernando Limongi, pela interlocução e pela solidariedade.
não um caos teórico: intelectuais imitativos, deslumbrados com as modas européias; suas preferências oscilando ao sabor delas.
Pesa sobre a geração 1870 a acusação de ter se interessado mais em edificar novos sistemas filosóficos que em interpretar a realidade nacional, ignorando solenemente, salvo honrosas exceções, como Joaquim Nabuco, os problemas cruciais da sociedade brasileira, sobretudo a escravidão.
Mesmo quando se admite um lugar para as idéias, ele é freqüentemente pouco lisonjeiro. Na formulação de Sérgio Buarque, a geração 1870 teria incorporado idéias européias