Alfabetização
Atualmente, a palavra "alfabetização'" está sendo cada vez menos utilizada pelos pedagogos, principalmente devido às suas ligações com métodos muito mecânicos de ensino. Tem-se preferido a enorme, porém correta expressão "ensino-aprendizagem da linguagem escrita" e, mais recentemente, passou-se a falar em processos de "letramento", que ocorrem fora das escolas e também, de forma mais sistemática, dentro delas, quando as crianças vivem em culturas em que a presença da linguagem escrita é comum no cotidiano.
Um belo exemplo permite ilustrar o espírito que embasa as novas concepções de alfabetização. Trata-se de uma história contada pelo escritor búlgaro Elias Canetti, Prêmio Nobel de Literatura em 1981. Ele fala sobre sua infância e conta como todos os dias ficava fascinado ao ver seu pai ler o jornal: "Era um grande momento quando ele o desdobrava lentamente. Assim que ele se punha a lê-lo, já não tinha olhos para mim, e eu sabia que, de forma alguma, não me responderia. (...) Eu tentava descobrir o que o prendia tanto ao jornal; no começo pensava que fosse o cheiro e, quando ficava só e ninguém me via, trepava na cadeira e avidamente cheirava o periódico. Mas depois notei como ele movia a cabeça ao longo da folha, e o imitei sem ter diante dos olhos o jornal que ele segurava sobre a mesa com ambas as mãos, enquanto eu brincava no chão, às suas costas. Certa vez, um visitante o chamou; ele se voltou e me flagrou em meus imaginários movimentos de leitura. Então se dirigiu a mim (...) e me explicou que o que importava eram as letras, muitas pequenas letras nas quais ele bateu com o dedo. Em breve eu também saberia ler, disse ele, e despertou em mim um insaciável desejo pelas letras." (Elias Canetti. A língua absolvida. São Paulo : Companhia das Letras, 1989. p. 37.)
O exemplo ilustra uma ideia simples: a aprendizagem da leitura e da escrita será melhor em lugares em que as pessoas lêem e escrevem bastante, gostem de conhecer e criar histórias,