alem da alma
Cristiane Curi Abud
A histeria é uma afecção que acomete pessoas desde os tempos mais remotos de nossa história, representando um impasse para a medicina, uma vez que seus sintomas, apesar de expressos no corpo, sob a forma de paralisias, anestesias, entre outros, não apresentam etiologia orgânica.
Para ilustrar o quadro clínico da histeria, apresentarei um caso atendido no Hospital São Paulo, cujos sintomas derivam de uma hiperestesia do olfato. Em seguida, farei um breve histórico de como a histeria foi compreendida através da história da medicina. O leitor notará que o impasse proposto pela histeria - a falta de um substrato orgânico para os sintomas apresentados - levou alguns dos pensadores à tentativa de construção de explicações psicológicas.
Um desses pensadores, Freud, neurologista imerso nas concepções médicas de seu tempo, certo de que os sintomas histéricos não apresentavam uma etiologia orgânica, mas sim, psíquica, construiu uma teoria psicológica. Conhecida como psicanálise, a teoria freudiana tenta elucidar que mecanismos psíquicos subjazeriam à formação dos sintomas. Para exemplificar e introduzir o pensamento freudiano acerca do funcionamento psíquico da histeria retomarei o caso da Miss Lucy por ele descrito, cujo sintoma principal era uma anestesia parcial da capacidade olfativa.
Por fim, apresentarei um outro caso atendido no Hospital São Paulo.
Leila e as formigas:
Leila, uma moça de trinta e três anos, em agosto de 2001, durante a faxina que fazia na casa de seu patrão, passou mal com o cheiro de um produto de limpeza. Ela limpava o banheiro, com um “tal de Form não sei o quê, que serve para matar bactérias” (sic) e o cheiro gerou falta de ar, tremedeira, moleza nas pernas, “gastura” e choro: “dali para cá fiquei assim”. Passou a ter medos; medo de usar cera vermelha, medo da cor do sangue da menstruação. Cheiros de cândida e cloro fazem mal, “ficam parados