A relação entre a verdade e os fatos em Russell
Introdução Ofereço neste ensaio uma introdução à discussão das teorias da verdade e suas implicações, abordando duas principais teorias: a da verdade como coerência e como correspondência. Em seguida, apresento a perspectiva de Russell sobre a relação que há entre a verdade das crenças e os fatos correspondentes que as veridam. Para fins deste ensaio considerarei que os portadores de verdade, isto é, aquilo que dizemos ser verdadeiro ou falso, são as crenças. Ainda que seja alvo de disputa o que é realmente um portador de verdade, – frases, crenças ou proposições – utilizarei aqui o termo crença. Também é desejável que o leitor tenha alguma definição de crença em mente, ainda que instrumental, para continuidade do texto. O termo “crença” possui uma ambiguidade ato/objeto. A crença como ato, se refere à atitude de uma pessoa qualquer crer em algo. Já a crença, como objeto, refere-se aquilo que a crença expressa, ou seja, o significado da crença. Pensando dessa forma, nos aproximamos muito da ideia de proposição, pois podemos interpretar o conteúdo da crença como uma representação psicológica na mente de uma pessoa, geralmente entendido como um objeto abstrato.1 Portanto, utilizarei o termo crença, tratando-a como objeto.
Crença verdadeira Utilizamos o conceito de verdade cotidianamente, sendo que a maioria das nossas decisões são baseadas em crenças que julgamos ser verdadeiras: ao escolher uma roupa para uma entrevista de emprego, pensamos ser verdadeiro o julgamento de que tal roupa seja apropriada; quando escolhemos seguir uma religião, ou nenhuma, nos baseamos em crenças que julgamos ser verdadeiras. A maioria das nossas crenças2 tem como base – ou são diretamente implicadas – por outras crenças mais fundamentais, por exemplo, meu julgamento de que determinada roupa será adequada para uma entrevista de emprego baseia-se na crença de que este é um ambiente de seriedade e comprometimento, optando por