Porque nao sou cristao, B. Russell
Simon Blackburn1
Em Londres, o jornal The Times relatava dias calmos no início de março de 1927. No interior, a caça era apenas moderada, mas na capital, depois de um telefonema anônimo, havia esperança de que o colar no valor de 20 mil libras pertencente à senhora Bruce Ismay pudesse ser recuperado. Pelo preço de
77 libras e 10 shillings, o Church
Travellers Club (Clube dos Viajantes da
Igreja) levaria você à Palestina, ao
Egito, a Atenas e a Constantinopla.
Havia
muitos anúncios para governantas, mas poucas embarcariam na viagem religiosa, já que a soma com
aparência modesta significava um bom ano de salário. Muitas cartas ao editor mostravam preocupação com a mudança proposta para o livro de preces; aliás, o bispo de Norwich organizara uma reunião especial para tratar dessa reforma (“O general de brigada H.R.
Adair, que a presidira, disse que desejava um livro disciplinar, e não um novo livro de preces.”) Os eventos religiosos eram relatados de modo extensivo.2 Provavelmente um dos únicos acontecimentos que deixara de ser mencionado pelo The Times foi a palestra proferida no dia 6 de março, na prefeitura de Battersea, sob o patrocínio da divisão da zona sul de Londres da
Sociedade Laica Nacional – evento que também não foi relatado depois de sua ocorrência. A palestra era “Por que não sou cristão”, o texto mais famoso e mais franco entre os muitos escritos por
Bertrand Russell a respeito de religião.
Virara moda desacreditar a palestra e os textos subsequentes de Russell sobre esse tema, descritos como rasos, desprovidos de espírito e inadequados à profundidade do assunto. As pessoas de intelecto mais elevado que se mostraram condescendentes com o autor afirmam que, de fato, se a religião não passasse d e superstição, Russell seria relevante, mas ela é mais do que isso, e portanto ele não é importante. O primeiro ataque desse tipo apareceu em agosto daquele
mesmo ano,