a mistica religiosa
Experiência mística e religiosa
Antes de Robinson Crusoe ter efectivamente visto o homem Sexta‐feira, a sua justi‐ ficação para acreditar que havia alguém que não ele próprio na ilha consistia em vestí‐ gios deixados por Sexta‐feira, tais como pegadas. O crente que baseia a sua crença em
Deus apenas em argumentos a favor da existência de Deus, como os argumentos cos‐ mológico e do desígnio encontra‐se numa situação algo semelhante à de Crusoe antes de ter realmente visto Sexta‐feira. A crença em Deus assenta numa convicção de que o mundo e o modo como as coisas nele se inter‐relacionam são vestígios da actividade de Deus, testemunhando a existência de um género de ser supremo. Depois de ter realmente visto Sexta‐feira, porém, as razões que Crusoe tinha para acreditar que não estava sozinho na ilha não se limitavam aos vestígios deixados por Sexta‐feira; nestas se incluía o contacto directo, em pessoa, com o próprio Sexta‐feira. Analogamente, as pessoas que têm experiências místicas e religiosas encaram amiúde a experiência mís‐ tica e religiosa como uma consciência pessoal directa do próprio Deus e, consequen‐ temente, como uma justificação excepcionalmente forte para a crença em Deus. Neste capítulo consideraremos a experiência mística e religiosa com o objectivo de avaliar até que ponto podem justificar racionalmente a crença.
Para uma definição de experiência religiosa A nossa primeira tarefa é tentar compreender o que é a experiência religiosa. Como caracterizaremos a experiência religiosa? Esta questão é excepcionalmente difícil e qualquer caracterização a que cheguemos será provavelmente inadequada, talvez mesmo um pouco arbitrária. Mas precisamos de ter alguma ideia, por muito vaga e inadequada que seja, daquilo que esperamos examinar. Comecemos por considerar um exemplo claro de experiência religiosa — a experiência de Saulo na