Acto da Primavera
Oliveira neste filme mostra-nos um jogo entre a vida material, um homem que se julga imortal e um outro homem frágil, crente e submisso a Deus, que será a sua salvação. É entre este jogo carnal e espiritual que Oliveira dá um toque de sensibilidade, quando Maria Madalena beija os pés de Cristo, deixando os seus cabelos deslizarem sobre a pele dos pés. Por outro lado, é a submissão do homem a Deus e por outro, um acto de carinho, compaixão, por um homem igual aos outros que está ali a sofrer pelos outros homens.
Mas o realizador não se limitou a registar em perfeita sequência os vários momentos da peça, antes introduz elementos distanciadores que lhe conferem um novo significado, documental (a vida da aldeia, a preparação do auto), cultural (as relações do auto com o mundo, a "descida aos infernos" que são as atualidades contemporâneas) e poético-espiritual (o sentido profundo da Paixão de Cristo), novo significado que atinge toda a grandeza nas imagens finais, em que a Ressurreição de Cristo coincide com a ressurreição da terra em flor, com a Primavera. Daí o título do filme, daí o seu sentido profundo de transfiguração, de transformação da matéria pelo espírito.
Acto da Primavera começa e termina pelas "atualidades", notícias vindas dos jornais impressos, contrastando o "mundo de informação" de 1963 com o mundo camponês, tradicional, dir-se-ia atemporal de Trás-os-Montes. Muito rapidamente, o campo se reveste com a metáfora de