Gata borralheira

A Gata Borralheira Acto I Narrador: Pensam vocês que sabem esta história? Mas a que têm na vossa memória é só uma versão falsificada, rosada, tonta e açucarada feita para as crianças inocentes, ficarem contentes. Começou tudo quando as feias irmãs com seus brincos, colares e anéis partiram para o Baile dos Reis, enquanto que a pobre Gata Borralheira ficou fechada, só, na garrafeira, cheia de ratos, ratinhos e ratões, todos às dentadas e encontrões. Gata Borralheira: Ai quem me acode, quem me vem salvar! (num clarão de luz, aparece a fada Madrinha, toda a brilhar) Fada Madrinha: Então, o que re aconteceu? Gata Borralheira: (dá três murros na porta trancada) Hoje há um baile, que dá o rei. Já todos partiram e eu fiquei. Quero um vestido, um coche dourado, jóias de ouro e um rico toucado. Dançando com sapatos de cristal vou conquistar o príncipe real. Fada Madrinha: Espera! (A Fada Madrinha dá um mágico toque de varinha, fazendo a Gata Borralheira aparecer onde o baile está a decorrer).

Acto II (As irmãs arrepelam-se ao verem o Príncipe e a Gata Borralheira dançarem na pista, abraçados de tal maneira que o Príncipe até perde a fala diante de todos, naquela sala). (O relógio bate a meia-noite). Gata Borralheira: Adeus! Adeus! Adeus, que já me vou! (O príncipe prende-a pelo vestido bordado). Gata Borralheira: Ai deixa-me partir. (Foge pelos salões, fica o vestido todo rasgado e fica a correr à pressa em roupa interior, perdendo um sapato no corredor). Príncipe: (salta como um leão e leva o sapato dela ao coração) A quem ele servir é a noiva com quem me vou unir. Hei-de correr as casas da cidade até descobrir a minha beldade! (despistadamente deixa o sapato num caixote, abandonado). (Uma das manas invejosas, picada de borbulhas horrorosas, pega no sapatinho tão coquete, atira-o para dentro da retrete. Em seu lugar dissimuladamente, põe o próprio sapato ainda quente).