aborto
NA CAMPANHA DA FRATERNIDADE
Ciência e ética no ensino da Igreja*
Naara Luna
Em 2008, o tema da Campanha da Fraternidade da CNBB foi “Fraternidade e defesa da vida”.
Este artigo analisa o manual produzido, situando essa campanha no contexto mais amplo da atuação da Igreja Católica na esfera pública. Defende-se a hipótese de que o lema “escolhe, pois, a vida” foi criado para fazer frente a duas questões discutidas nos últimos anos pela sociedade brasileira: 1) o esforço do Ministério da Saúde e da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres para reinserir o aborto como problema de saúde pública, o que seria ocasião para alterar a lei vigente; 2) a produção de embriões humanos na reprodução assistida e o uso dos excedentes em pesquisas para a produção de células-tronco.1 A pesquisa com células-tronco e
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Agradeço a leitura e comentários de Edlaine de Campos Gomes e Rachel Aisengart Menezes.
Artigo recebido em abril/2009
Aprovado em junho/2010
o debate sobre a legalização do aborto são processos independentes liderados por atores sociais distintos (no primeiro caso, a comunidade científica, no segundo, o movimento de mulheres) que foram conjugados por incidirem na intervenção sobre embriões e fetos humanos. A Igreja Católica tem sido um ator fundamental em ambas as controvérsias e as aglutinou no tema da Campanha da Fraternidade (CF) de 2008, impondo a força de um discurso religioso até então hegemônico no debate público.
Baseando-se no manual elaborado pela CNBB que serviu de recurso didático para a campanha, este texto enfoca as representações sobre feto e embriões e a argumentação usada para lhes negar ou lhes atribuir a condição de pessoa. O conceito de
“vida” é peça-chave nessa retórica, que desliza entre o discurso científico e o religioso. O esforço de situar as polêmicas sobre o aborto e a pesquisa com células-tronco embrionárias no contexto da atuação da Igreja no espaço