6 Resenha
Literatura e sociedade. 8.ed. São Paulo: T. A. Queiroz, 2000. p. 169-192.
Resenhado por Adriana Nobukuni MICIANO *
Neste ensaio, o autor Antonio Cândido investiga a função histórica e social da obra
Caramuru de Frei José de Santa Rita Durão e sua estrutura literária. Caramuru, pouco apreciado no seu tempo, hoje tem seu papel iminente na definição do caráter nacional da nossa literatura e Durão, junto a Basílio da Gama, foram verdadeiros poetas nacionais.
O autor leva em consideração o nível de realidade da época, as diferenças de perspectivas dos contemporâneos da obra, as variações históricas e como a estrutura literária permanece invariável enquanto a função histórica muda. Segundo o autor, a literatura brasileira só adquire consciência depois da Independência com a classe dominante tentando se libertar totalmente dos estatutos da metrópole; era preciso mostrar que o país tinha literatura e o indianismo aparece como timbre supremo de brasilidade, essa era a função histórica dos românticos que enalteciam o poema e a literatura indianista/nativista, idealizando o índio e o país como algo belo e magnífico.
A nação tinha que ter uma tradição, mesmo que imaginária, uma história que elogiasse a própria história, elevando a colônia ao nível da metrópole e que definisse uma aristocracia local, uma nobreza indígena para redimir a mancha da mestiçagem pela poligamia dos primeiros colonizadores e isso serviu de introdução ao poema de Durão, que tentou justificar a política colonial. O herói de Durão, Diogo, caminha tanto pela tradição histórica quanto à linhagística, viveu com os índios, casou-se com uma índia, formando um casal real e alegórico e criou uma importante linhagem de nobreza local, e assim, Dura celebra a colonização portuguesa e seus primeiros sinais de declínio.
Antonio Cândido aponta três elementos básicos na obra, princípios estruturais ambíguos: colonização, natureza e índios. A