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Francilene Maria Ribeiro Alves Cechinel*
Resumo
Durante a década de 1980, o Brasil assiste a um processo de reformulação dos papéis femininos e de criação de novas formas de ser mulher. Envolvida ativamente neste processo, Marina
Colasanti apresenta em suas obras a constante referência aos temas discutidos pelos grupos feministas da época e o forte movimento de desestabilização de antigos padrões e de proposta de possibilidades ainda pouco aceitas para as mulheres brasileiras. Em seu terceiro livro de miniÞcção, Contos de amor rasgados, de 1986, tais características se acentuam, à medida que o diálogo paródico, a intertextualidade, a ironia, o humor e os Þnais surpreendentes e abertos atacam a tradição e deslocam para o centro da narrativa a voz feminina e três temas predominantes: os estereótipos de gênero, a violência contra a mulher e a sexualidade feminina. A discussão dessas questões, sob diferentes pontos de vista e sob a mira da crítica irônica e bem-humorada de Colasanti, constrói na literatura brasileira um espaço de denúncia e luta por um novo futuro feminino e por indivíduos de ideias mais abertas em relação às mulheres.
Palavras-chave: Marina Colasanti. Contos de amor rasgados. Feminismo. MiniÞcção. Literatura brasileira. 1 A mulher e escritora Marina Colasanti
Marina Colasanti nasceu em 26 de setembro de 1937, em Asmara, na então colônia italiana da Eritréia, atual território da Etiópia, na África. Sua família voltou para a Itália quando ela ainda era criança, e, em 1948, emigrou para o Brasil, devido à eclosão da Segunda Guerra Mundial. Artista plástica por formação, jornalista, publicitária, tradutora e escritora, Colasanti se destaca na literatura brasileira principalmente por sua produção destinada ao público infantojuvenil – aclamada mais de uma vez com os prêmios da Associação Paulista de Críticos de Arte, da Fundação Nacional do Livro
Infantil e Juvenil e com o Jabuti – e por sua