'O conceito de loucura entre homens e mulheres em um hospital psiquiátrico
Nilton Aguilar - UnB
Apresentação
As representações dos ocidentais sobre a loucura e os sexos transformaram-se no decorrer do tempo. Os significados construídos e atribuídos aos corpos e as interpretações e julgamentos de determinados comportamentos e condutas modificaram-se no decorrer da história e de maneiras (ora) mais ou (ora) menos relacionadas. A despeito da alegada obviedade de suas diferenças orgânicas, e não obstante a serenidade com que se falou dessas categorias ao longo da história de uma “cultura ocidental”, o homem e a mulher nunca foram personagens eternos. Tampouco a loucura, um conjunto de condutas para a qual a sociedade não encontra um referencial simbólico justificável, esvaído dos padrões de normalidade de uma comunidade (VASCONCELLOS & VASCONCELLOS, 2007, p. 1047), enfim, uma agência continuadamente imprevisível (SERVICE, 1985, p. 67, apud VASCONCELLOS & VASCONCELLOS, 2007, p. 1047)) e não normatizada, possuiu um mesmo significado na história de nossa cultura. Não poderiam, portanto, a loucura do homem e a loucura da mulher serem significadas de uma mesma maneira ao longo do tempo. Não poderiam, portanto, que num mesmo espaço de tempo, ainda que num mesmo espaço geográfico, as loucuras de homens e mulheres terem o mesmo significado.
Partindo dessa primeira conclusão e me baseando em estudos sobre a história da loucura e da sexualidade buscados em Cunha (1997), Facchinetti, Ribeiro & Muñoz (2008) Foucault (1984 e 2000), Laqueur (2001), Oda & Dalgalorrando (2000), Pegoraro & Caldana (2008), Rohden (1998 e 2003) e Vasconcellos & Vasconcellos (2007), proponho, com a pesquisa que deu origem a este artigo, entender como se dão as diferentes representações da loucura dos homens e das mulheres no contexto de uma unidade de saúde mental.
Para tanto, entrevistei treze profissionais não médicos, sendo sete mulheres e seis homens do Hospital São