O Poder Psiquiátrico
No livro “O poder psiquiátrico”, Foucault se propõe responder a seguinte pergunta: "Em que medida um dispositivo de poder pode ser produtor de certo número de enunciados, de discursos, e, em consequência de todas as formas de representação que podem surgir dali?" Então, os dispositivos de poder passam a ser visualizados e analisados como instâncias de produção das práticas discursivas e a interrogação se deslocarão das representações para os dispositivos de poder e os jogos de verdade que se teceram em torno da loucura e do saber psiquiátrico. Vejamos agora algumas colocações referentes a estes dispositivos, das quais são frutos de algumas de suas palestras, que eram ministradas no Còllege de France (1973/1974) e que agora são instrumentos de estudo para nós os alunos da disciplina Introdução ao Filosofar.
Aula 3A/ 14 de novembro de 1973
A aula do dia 14 de novembro é aberta com o contraste entre duas cenas: a da libertação dos loucos de suas correntes por Pinel (no Hospital de Bicêtre, em 1793) e a que se passa na Inglaterra, na qual o rei Jorge III tem seus acessos controlados, protegido com colchões nas paredes. Este recebe cuidado de pajens, não para servir à sua vontade, mas sim às suas necessidades básicas. Nas crises, o rei é dominado e os pajens o abatem, o dobram, o desnudam e o limpam, numa cena que representa o início da psiquiatria. Neste contexto, a função deles é justamente exercer um poder de soberania, pois o servidor está de fato, a serviço das necessidades e à condição do soberano. No caso, nem seu estatuto e nem sua vontade podem interferir no processo e nesta relação estabelecida, aí entra em jogo o poder da disciplina, nas quais, o servidor não está a serviço do rei, mas sim, a serviço da necessidade do rei – que se dá pelas condições em que se encontra, (na loucura). Interessante destacarmos que nesse processo ele é descoroado e destituído da sua condição de monarca, pois entre os colchões que o cercam e o isolam do mundo