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II – A LOUCURA E A REFORMA DO CAMPO ASSISTENCIAL

2.1 A loucura como questão médica

O Brasil vive um processo de mudanças estruturais na assistência destinada aos portadores de sofrimento mental. A passagem do tratamento que privilegiava o hospital psiquiátrico e o colocava na convergência das atenções assistenciais para o cuidado de base comunitária não se deu por acaso. O país sofreu influências de algumas tradições, e marcado por suas próprias especificidades, pôde construir uma reforma assistencial singular. Dito de outro modo pode-se inferir que a reforma brasileira sofreu importante influência de alguns países, tais como França, Itália, Inglaterra dentre outros, mas construiu um percurso que lhe é muito próprio, no qual nenhum outro modelo serviu como exemplo, de forma especular.
A necessidade de se reconstituir o percurso da reforma psiquiátrica, tanto no espaço doméstico, quanto por influências internacionais, faz-se necessária muito mais por contextualizar e procurar compreender o porquê da emergência de um dispositivo como um CAPS do que por uma reconstrução necessariamente histórica. Isto porque o foco da atenção deve estar nas relações interpessoais que emergem a partir da implementação de tais dispositivos, e os efeitos que a proposta de tratamento comunitário da loucura possam ocasionar.
Se o trajeto proposto pela reforma assistencial brasileira é de inserção comunitária e a derrubada dos muros dos hospitais psiquiátricos, faz-se necessário retomar as condições que os mesmos foram criados e as razões pelas quais o instrumento do isolamento foi utilizado. Durante séculos o hospital psiquiátrico teve uma função que vai muito além do tratamento. O asilamento, a exclusão, enfim, a retirada de sujeitos circulantes dos espaços sociais era tão ou mais fundamental quanto a proposta de tratamento. Implicitamente, a função do hospício de determinação do espaço da loucura serviu para determinar o espaço da normalidade, ou seja,

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