Ítalo Calvino - Leveza
Vara verde e vivaz em medula porosa sorve a força do monstro e ao contato endurece, e seus ramos e folhas ganham rigidez.
As ninfas do mar tentam de novo o prodígio noutras plantas e alegram-se por consegui-lo, e lançam as sementes delas no oceano.
Agora a natureza dos corais é idêntica: endurece no ar, convertendo-se em rocha21 sobre o mar o que era vime embaixo dele.
Aqui cabe investigar como o poeta consegue esse efeito de leveza, detectado por
Calvino. Na verdade, o que o poeta faz é uma operação bastante comum no poema inteiro. É bem característica do modo de operar ovidiano a contraposição de elementos díspares, o equilíbrio entre elementos contrários, compondo uma imagem única. Perseu encarna, ao menos tempo, o terrível matador de monstros e um herói cordial, capaz do gesto mais audaz e da ternura mais imprevista. Isso já implica um certo maravilhamento, que vai se concluir com o milagroso aparecimento dos corais. Assim, ao mesmo tempo em que o poeta, através do enquadramento etiológico da cena, remete o leitor para o tempo das origens, os pequenos detalhes da cena, como o cuidado do herói para com a cabeça decepada da Górgona, aproximam o leitor do tempo presente, o tempo da leitura ou da audição do poema.7