Resumo Capítulo Leveza - 6 Propostas para o próximo milênio
No capítulo dedicado à leveza, Italo Calvino comenta sobre a leveza e o peso na escrita. Trata da leveza como uma qualidade e a traduz como a retirada do peso da narrativa e da linguagem.
No início de sua carreira como escritor buscava uma identificação entre o que acontecia no mundo e o seu ritmo de escrever, uma sintonia entre o dramático e o grotesco, relatando os fatos da vida, sua matéria prima.
Utiliza a mitologia como forma de melhor explicar a leveza na narrativa. O heroísmo de Perseu é descrito ao decepar a cabeça da Meduza, voar sobre sandálias aladas e não olhar jamais a face da Górgona – observando-a de maneira indireta através do reflexo do espelho ou de seu escudo. Depois da decapitação a relação entre Perseu e Meduza não se desfaz, ele não abandona a cabeça, e em casos extremos, a utiliza como arma contra seus inimigos. A força de Perseu está na recusa da visão direta, mas não na recusa da realidade do mundo de monstros em que reside. Em “Metamorfoses”, Ovídio descreve a alma de Perseu que, após matar o monstro marinho e libertar Andrômeda, lava as mãos. E mesmo depois de matar a Meduza, deposita sua cabeça em um ninho de folha e algas, com a face voltada para baixo, para não deixá-la em areia áspera e solo duro. Atitude que demonstra a leveza, e revela a gentileza de um verdadeiro herói. De igual modo, Eugenio Montalle, em seu poema “Piccolo Testamento”, demonstra leveza, ao tratar de uma visão apocalíptica sem deixar de valorizar traços que se contrapõem à catástrofe.
Os exemplos de leveza raramente serão tirados da vida contemporânea. Em seu romance “A insustentável leveza do ser”, Mila Kundera trata do peso do viver, da condição de opressão humana comum a todos nós – mesmo os mais afortunados – demonstrando que na vida, tudo que escolhemos pela leveza rapidamente se mostra insustentável. Então, cada vez que a vida se torna pesada devemos também olhar as coisas sob outra ótica, tal como Perseu voa para outro espaço – não como uma fuga