Édipo rei
[ BREVE REFLEXÃO SOBRE A TRAGÉDIA SOFOCLEANA REI ÉDIPO]
ORDEP JOSÉ TRINDADE SERRA
BREVE REFLEXÃO SOBRE A TRAGÉDIA SOFOCLEANA REI ÉDIPO
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ORDEP JOSÉ TRINDADE SERRA
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BREVE REFLEXÃO SOBRE A TRAGÉDIA SOFOCLEANA REI ÉDIPO
A tragédia Rei Édipo, de Sófocles, é freqüentemente abordada como porta-voz de um mito fundamental, nela cifrado: como hospedeira de um sentido que a precederia. Para quem a vê assim, ela se constitui numa forma cerrada: tem de ser aberta por um conhecimento que a
SERRA, O. J. T. . A Mais Antiga Epopéia do Mundo: a Gesta de Gilgamesh. 01. ed. Salvador: Fundação Cultural, 1985. v. 01. 164 p.
ultrapasse, que remova as capas do tecido brilhante, em busca dos sinais de um jorro anterior, do mundo primitivo donde lhe viria o significado. Segundo se imagina, rasgada sua pele, vencido seu limite, toca-se o segredo da fábula trágica... e daí pode-se volver ao texto em segurança — para triunfar da esfinge remota, já dominada. É uma certeza que muitos compartem...
Mas assemelha-se à ilusão de Édipo. Uma coisa é certa: o modo como hoje, ao ver de muitos intérpretes, a mais famosa
tragédia de Sófocles “contém” o mito de Édipo não era sequer imaginável para o seu primeiro público. Este tinha um contacto direto com a multiplicidade da tradição, que as cenas trágicas não faziam dissipar-se, antes ampliavam e enriqueciam com variantes novas. Então não se via a tragédia de Sófocles a encerrar — de maneira “definitiva” — um remoto conteúdo, velado em sua cintilante aparência. Para os antigos, o texto de Sófocles não era o representante e captor insidioso do mito que narra, ao mesmo tempo sua manifestação e sua
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ocultação perfeita. Era um dos modos como ele se realizava — e como se interpretava, num sentido mais rico do termo (aquele cogitado quando se diz que um artista criativo interpreta uma música). Era uma sua