Ácido ascórbico
A Era dos Descobrimentos foi movida pelo comércio de moléculas contidas nas especiarias, mas foi a falta de uma molécula, bastante diferente, que quase a encerrou. Mais de 90% da tripulação de Magalhães não sobreviveram à sua circunavegação de 1519-1522 — em grande parte por causa do escorbuto, uma doença devastadora causada por uma deficiência da molécula do ácido ascórbico, a vitamina C. Exaustão e fraqueza, inchaço dos braços e pernas, amolecimento das gengivas, equimoses, hemorragias nasais e bucais, hálito fétido, diarreia, dores musculares, perda dos dentes, afecções do pulmão e do fígado — a lista de sintomas do escorbuto é longa e horrível. A morte resulta em geral de uma infecção aguda, como pneumonia, alguma outra doença respiratória ou, mesmo em jovens, de paradas cardíacas. Um sintoma, a depressão, ocorre num estágio inicial, mas não se sabe ao certo se é um efeito da doença propriamente dita ou uma resposta aos outros sintomas. Afinal, se você se sentisse constantemente exausto, com feridas que não se curavam, gengivas doloridas e sangrando, hálito malcheiroso e diarreia, e soubesse que o pior ainda estava por vir, não se sentiria deprimido também? O escorbuto é uma doença antiga. Alterações na estrutura óssea de restos mortais do Neolítico são consideradas compatíveis com a doença, e hieróglifos do antigo Egito foram interpretados como se referindo a ela. Diz-se que a palavra escorbuto é derivada do norreno, a língua dos guerreiros e navegadores vikings que, do século IX em diante, partiam da Escandinávia para atacar o litoral atlântico da Europa. Durante o inverno, a falta de frutas e verduras frescas ricas em vitamina devia ser comum a bordo dos navios e nas comunidades nórdicas. Supõe-se que os vikings usavam a cocleária, um tipo de agrião ártico, quando viajavam para a América passando pela Groenlândia. As primeiras descrições concretas do que era provavelmente o escorbuto datam das Cruzadas, no século XIII.
O escorbuto no mar