V de vingança e a soberania do estado
A história do filme V de Vingança apresenta como antagonista um político fascista, que alcançou o poder na Inglaterra num período de grande agitação social, marcado pelo rápido empobrecimento da população, altas taxas de criminalidade, rebeldia civil e o temor de uma guerra que já afligia outros países. Religioso fanático e sem nenhum respeito pelo processo democrático, o chanceler aproveita-se do terror largamente disseminado entre a população para implantar no país um governo forte e anti-social, que não só perseguiu as minorias e os opositores do regime, como sujeitou à sua vontade a todos os demais, controlando-os através de instruções televisionadas, toques de recolher, uma polícia truculenta e a incapacidade de se questionar judicialmente as ações dos representantes do Estado, o que justifica a escolha do Old Bailey para o primeiro alvo de V, por trata-se de um emblemático tribunal de justiça de Londres. Como é comum acontecer em casos desta natureza, também no filme o governo autoritário do chanceler emerge em meio a uma crise das mais graves. Não sendo da noite para o dia que se estabelece a ditadura, num primeiro momento grande parte dos próprios cidadãos aceitam a suspensão de direitos em troca de melhores condições de vida, resignados à política de silêncio e obediência em troca de ordem e paz. Seguindo essa lógica, fecham comodamente os olhos para os excessos cometidos pelo governo, relevando as perseguições e a censura como fossem realmente necessárias para se alcançar o almejado retorno à sociedade que conheciam. Ainda que no fim acabem manifestando amplo apoio a causa de V, em sua gênese deram ao governo todo o suporte de que precisava para manter a aplicação de suas políticas radicais, pelo que de nenhum modo podiam eximir-se completamente da culpa pelos crimes cometidos pelo chanceler ao longo de sua gestão, nem tão pouco da responsabilidade que tiveram na própria criação do Estado