O urbano como projeto, como crise e como promessa emancipatória
V.
DE
F ILOSOFIA
33 N. 106 (2006): 247-271
O URBANO COMO PROJETO , COMO CRISE
E COMO PROMESSA EMANCIPATÓRIA
João Antônio de Paula
CEDEPLAR/FACE/UFMG
Resumo: Trata-se de artigo que busca surpreender a centralidade da cidade na história, desde sua forma antiga, tal como estudada por Fustel de Coulange, até sua presentificação contemporânea, apreendida pelo conceito de urbano formulado por
Henri Lefebvre. No essencial, o artigo busca mostrar que a disputa pela cidade, pelo seu controle, sempre foi, e é, um dos capítulos centrais do processo histórico.
Palavras-chave: Cidade, polis, capitalismo, urbano, Lefebvre.
Abstract: This article discusses the central role played by the city in history, from its old form such as that studied by Fustel de Coulange, to its contemporary form, as apprehended by Henri Lefebvre’s concept of the “urban”. This article demonstrates that the dispute for the city and for its control has always been (and still is) one of the central aspects of the historical process itself.
Key words: City, polis, capitalism, urban, Lefebvre.
Síntese, Belo Horizonte, v. 33, n. 106, 2006
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ermita-se uma ousadia: a cidade é a maior e a mais autenticamente emancipatória invenção da humanidade. Ao dizer isto não se está ignorando o muito de barbárie e exclusão, que tanto hoje, quanto no passado, a cidade tem experimentado. É que os processos regressivos que têm marcado a sua história, variados e recorrentes, também têm encontrado nela seus mais permanentes críticos e antídotos, de tal modo que se é o caso de acreditar na possibilidade de superação das crônicas mazelas da cidade, que se veja esse processo como decorrência do potencial emancipatório decorrente dela própria em sua inexcedível capacidade de emular a interação, a cooperação, a construção de identidades coletivas.
A cidade é a matriz do logos como é a matriz do ethos Produziu as logos, ethos. condições tanto para a vida