O testemunho de Daniel Paul Schreber
Memórias de um Doente dos Nervos (1903)
Do Prólogo
Considerando que tomei a decisão de, em um futuro próximo, solicitar minha saída do sanatório para voltar a viver entre pessoas civilizadas e na comunhão do lar com minha esposa, torna-se necessário fornecer às pessoas que vão constituir meu círculo de relações ao menos uma noção aproximada de minhas concepções religiosas, para que elas possam, se não compreender plenamente as aparentes estranhezas de minha conduta, ter ao menos uma idéia da necessidade que me impõe tais estranhezas.
Da carta aberta ao Sr. Conselheiro Prof. Dr. Flechsig
Não tenho a menor dúvida de que o primeiro impulso para o que foi sempre considerado pelos meus médicos como meras "alucinações", mas que significa para mim uma relação com forças sobrenaturais, consistiu em uma influência emanada do seu sistema nervoso sobre o meu sistema nervoso.
Não preciso salientar a incalculável importância que teria alguma forma de confirmação de minhas suposições acima indicadas, sobretudo se estas encontrassem apoio em recordações que o senhor tivesse conservado na memória. Desta forma, a seqüência global da minha exposição ganharia credibilidade diante do mundo todo e seria imediatamente considerada como um problema científico sério a ser aprofundado por todos os meios possíveis.
A tradução brasileira
O leitor brasileiro de Schreber conta com um texto introdutório de autoria de Marilene Carone, intitulado: Da loucura de prestígio ao prestígio da loucura
Desta introdução destacamos uma apreciação dos objetivos da obra e os dados biográficos do autor
O reconhecimento que Schreber buscava
Em 1903, ao publicar as Memórias de um doente dos nervos, Daniel Paul Schreber acreditava que seu trabalho era uma valiosa contribuição para a pesquisa científica. Doente dos nervos, sim, mas não uma pessoa que sofre de turvação da razão. "Minha mente é tão clara quanto a de qualquer outra pessoa." (07: M.,