Adriana Dias
Entre inimigos: a construção do "Mal" nos grupos neonazistas
Adriana Dias
Doutoranda em Antropologia (UNICAMP)
RESUMO: Na última década, um fenômeno, assumidamente responsável por milhares de assassinatos no mundo, foi objeto de investigação etnográfica (EZEKIEL, 1995, DIAS,
2007): o neonazismo. Nestas etnografias foram problematizadas as dimensões sociais, mitológicas, históricas e políticas destas práticas, priorizando uma discussão acerca da
“banalização do mal”. Formado por defensores da “supremacia branca”, que representa seus “inimigos”, principalmente “o judeu” e “o negro”, como “o Mal”, tais grupos tecem narrativas, atualizam modelos políticos totalitários, num processo discursivo que busca a bestialização e demonização de seus “inimigos” e que visa inseri-los num cenário marcado por um referencial obscuro, misterioso, dissimulado, e associado à noite, a escuridão, ao perigo. Os neonazistas defendem que “o judeu” e “o negro” objetivam destruir a integridade e o bem-estar dos "brancos" e que toda infelicidade e miséria a que se sentem expostos, seria, ainda, por seus “inimigos” planejadas. Numa discussão que inclui a noção de habitus (em Bourdieu e em Tomás de Aquino), a presente comunicação quer pensar “o
Mal” a partir da noção de “conhecimento social implícito”, “aquilo que torna o real, real
[...] e, acima de tudo, aquilo que torna as distinções éticas politicamente vigorosas”
(TAUSSIG, 1987), articulando esta discussão com a questão proposta por Latour (2002), para uma antropologia pós-social, imanentista e que supere a noção de “crença”: “Como produzimos aquilo que nos supera?
Introdução
“O estado de exceção (...) tornou-se a regra.”
Walter Benjamin (1942, p. 697)
Lutamos contra toda a corja que tenta destruir nossa raça: a raça ariana. Quem tentar nos atacar será considerado nosso inimigo! Treinaremos nossas crianças para que lutem por um mundo digno onde realmente possam viver seguramente! Neonazista em Fórum na Internet1
A proposta do presente