O Surdo tem, de fato, dificuldades de abstração?
Curso: Licenciatura em Ciências Sociais / 8º período
Disciplina: Educação e Comunicação II – Libras
Turma: 6ª feira (Noite)
O Surdo tem, de fato, dificuldades de abstração?
No capítulo, Paula Botelho tem como principal objetivo questionar a suposta ideia de que os surdos – os quais vivem em um meio em que a língua oral é autorizada e legitimada – supostamente possuem dificuldades de abstração, ou seja, dificuldades em pensar algo para além do que é concreto. Neste sentido, buscando desconstruir este ideal, a autora aponta algumas questões que vão desde o sistema de ensino e papel da psicologia, a estigma. Segundo ela, os surdos têm estado permanentemente em contato com um ‘’discurso ouvintista’’ que se caracteriza como um conjunto de representações dos ouvintes, a partir do qual o surdo é obrigado a olhar-se e narrar-se como se fosse ouvinte. Botelho percebe, por exemplo, que a conclusão do ensino fundamental em grande parte das escolas de surdos demora muito mais tempo do que o esperado para um estudante ouvinte. Destaca que a metodologia de ensino, principalmente no Brasil, é pautada no ensino de palavras, pensando a linguagem como um aglomerado de vocábulos. Segundo a psicologia, os surdos seriam os mais neuróticos e introvertidos, imaturos, irritáveis, dependentes, inseguros, impulsivos etc. Esta forma de pensar foi reforçada por diversos psicólogos e por conta disso, circulou a crença de que o pensamento do surdo, em comparação ao de pessoas ouvintes, era tomado como concreto. Toda essa crença gerou um estigma que perpassou gerações. Quando o surdo apresenta dificuldades para ler ou escrever, recorre-se à explicação da concretude de seu pensamento e, logo, à sua dificuldade de abstração. A hipervalorização, por exemplo, da utilização de material concreto na educação de surdos é decorrente desta crença de que a surdez demanda aprendizagem predominantemente ou exclusivamente por via direta.