O sagrado e a Religião
GIL FILHO, S. F.1
O sagrado e o profano seriam duas modalidades de existência assumidas pelo homem em sua história. São maneiras de ser no mundo e no cosmos. A referência do sagrado posiciona o homem diante de sua própria existência. De modo abrangente, a reflexão sobre o sagrado interessa tanto às ciências humanas como à filosofia.
Ao apresentar e qualificar o sagrado, ELIADE constrói uma ponte interpretativa entre a natureza transcendente da religião e sua materialidade. A manifestação do sagrado contribui para uma nova semântica de relações que podemos caracterizar como:
O
homem
religioso
imprime
ao
mundo
sensível
uma
descontinuidade, que reclassifica qualitativamente os objetos.
Ao sacralizar o mundo, o homem religioso atribui a significação plena de um espaço sagrado em oposição a todo o resto, como sendo sem forma e sentido.
Ao delimitar conceitualmente o sagrado, ELIADE, busca uma estrutura e uma morfologia baseadas em uma gama diversificada de sacralidades ou fatos sagrados. A diversidade de modalidades do sagrado relativiza bastante o conceito de hierofania. Este conceito só é delimitado pelo fato de toda e qualquer hierofania ser histórica. Muito embora separadas pelo contexto único de cada momento da história, as hierofanias possuem escalas de abrangência
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Professor Adjunto do Departamento de Geografia,
Doutor em História – UFPR e Mestre em Geografia - UNESP
do local ao universal.
Na análise de OTTO (1992), o sagrado é uma categoria de interpretação e avaliação a priori, e, como tal, somente podemos remetê-la ao contexto religioso. A teoria do sagrado ottoniana nos permite resguardar um atributo essencial para o fenômeno religioso ao mesmo tempo em que o torna operacional. Nesta abordagem, o sagrado reserva aspectos ditos racionais, ou seja, passíveis de uma apreensão conceitual através de seus predicados, e aspectos não
racionais,
que
escapam
à