O sagrado e profano: a natureza da religião
Quando me refiro à religião, - declarou o Sr. Thwackum, no romance de Henry Fielding, Tom Jones, - refiro-me à religião cristã; e não apenas à religião cristã, mas à religião protestante; e não apenas à religião protestante, mas á Igreja da Inglaterra.
Os esforços para definir a religião sofrem o influxo não apenas do paroquialismo thwackumiano de que os homens partilham em vários graus, mas também da complexidade da religião, que pode incluir uma teologia (corpo de doutrina formal), um ritual, um tipo de experiência pessoal, um conjunto de valores morais e uma organização de fiéis e sacerdotes ou profetas.
Outras definições sublinham os ritos e crenças comuns ou focalizam a “religião institucional”, isto é, a organização e atividade das igrejas e os papéis de líderes e funcionários religiosos.
A ideia de Deus nessas religiões ou é ambígua ou totalmente ausente, e a atenção se centraliza no ritual e em ideias abstratas. Em todas as religiões se encontra a concepção de um poder sobre-humano, mas esse poder reveste-se de muitas formas: deuses de número e caráter variáveis, fantasmas e espíritos, ou alguma força abstrata e impessoal. Entre os melanésios do Pacífico Sul, a noção de um Ser Supremo lhes é de todo estranha, como, aliás, a de qualquer ser que ocupe lugar muito elevado em seu mundo.
Diversos são os objetos suscetíveis de adquirir significados religioso, tão várias as crenças religiosas que o homens adotam e tão dessemelhantes os rituais seguidos, que parece evidentes que nenhuma qualidade intrínseca lhes dá seu significado religioso. O contraste entre sagrado e profano, assinala Durkheim, é “o traço distintivo do pensamento religioso”.
Entretanto, para muitos participantes do ritual religioso o significado mítico ou simbólico de seus atos é escassamente compreendido. Eles distinguem o sagrado do profano e obedecem aos costumes tradicionais como parte de seu apego a fé, mas com pouco ou nenhum