O Reflexo de Rachel de Queiroz em seus personagens femininos
Desde o primeiro romance, Rachel de Queiroz ia depurando suas óbvias qualidades literárias. Em O Quinze estreia uma narradora vigorosa, um tanto árida, despojada de um certo acento sentimental tão colocado à personalidade feminina.
Rachel era uma escritora de temperamento livre, autônomo e pioneiro e ela injeta determinação nas veias de suas personagens, tais como Conceição, que é pura razão e que move-se pelas teias de sua mente, contestadora, sem, no entanto, ser rebelde ou dissimulada. Já em Memorial de Maria Moura, obra de maturidade estilística, a personagem principal - Moura - é uma mulher que não tem compaixão e quer ganhar todas as batalhas. Maria Moura buscava construir o mito de uma mulher forte e decidida. Ela vivia num tempo ainda mais avesso aos direitos das mulheres do que o começo do século, no sertão do Ceará e na acanhada Fortaleza, por onde se movia a professorinha de O Quinze.
Maria Moura e Conceição são personagens femininos que apresentam um ponto comum, a sua independência em relação aos homens e a dúvida em relação ao afeto dos primos rudes. Conceição prima por sua liberdade e rejeita a condição de aturar um marido a que a sociedade permitia e mesmo encorajava a sujeitar a esposa.
Moura desdenha do amor porque ele fragiliza a guerreira e não hesita em matar o amado, segura de ser atraiçoada.
Entre uma e outra cavalgada alma indomada de Rachel.
E Rachel era mesmo surpreendente. Divorciou-se numa época (1939) em que poucas mulheres tinham coragem de fazê-lo. Ela não se rendeu aos ditames sociais, de que a mulher, para não ser difamada, deveria ficar sujeita a um matrimônio, mesmo que este a fizesse infeliz.
E é esta coragem que se observa em seus personagens femininos, tais como Conceição e Maria Moura (já citados) e também Dora de Dora Doralina, Guta de
As Três Marias e Noemi de Caminho de Pedras. É como se existisse um pedacinho da