CONE
DECIFRANDO O BRASIL: ITINERÁRIOS DE RACHEL DE QUEIROZ
Clovis Carvalho Britto (UNB)
RESUMO:
Este artigo analisa a trajetória de Rachel de Queiroz (1910-2003) e suas relações com o campo literário brasileiro. Acreditamos que, ao enfrentar o cânone e à dominação masculina, a autora desenvolveu uma sensibilidade sociológica que contribuiu de modo significativo para a formação e atualização de narrativas sobre o Brasil.
PALAVRAS-CHAVE
: Literatura; Pensamento Social; Nação.
Introdução
Até o século XX, as escritoras estiveram praticamente ausentes dos registros das consideradas grandes historiografias brasileiras. Nos compêndios de história literária, foram, em sua maioria, colocadas à margem pelos agentes que construíram o cânone. Apesar dessa lógica, surgiu na década de 1930 uma desbravadora a forçar passagem, cujas marcas não puderam deixar de ser percebidas. Uma Maria Moura que pensou o Brasil de um novo modo, com um olhar crítico e independente, olhar de intelectual, mulher, sertaneja. Essa desbravadora é Rachel de Queiroz:
Foi a única escritora mulher aceita como representante do movimento modernista.
Foi uma das primeiras mulheres a se propor, com sucesso, uma vida independente e livre. Foi uma mulher que escolheu e determinou seu destino afetivo, existencial, literário, profissional, político. Foi uma mulher que viveu de e para o ofício de escrever (HOLLANDA, 2004, p. 297).
As contribuições de Rachel extrapolam o ambiente literário e a luta pelo reconhecimento da qualidade do trabalho feminino. Sua obra, nitidamente política, pode ser considerada como um inventário das idéias que presenciou em quase um século em que permaneceu atuante no cenário intelectual brasileiro.
Rachel conseguiu enfrentar o cânone literário, nele fazendo ecoar um tom social e feminino em suas representações sobre a nação. Apesar de