O que é leitura
A importância do “mito vivo”
1- Há mais de meio século, os eruditos ocidentais passaram a estudar o mito por uma perspectiva que contrasta sensivelmente com a do século XIX, por exemplo. O mito na acepção usual do termo, e, como “fábula”, “invenção”, “ficção”, eles o aceitaram tão qual era compreendido pelas sociedades arcaicas, onde o mito designa, ao contrário, uma “história verdadeira” e, ademais, extremamente preciosa por seu caráter sagrado, exemplar e significativo. A palavra é hoje empregada tanto no sentido de “ficção” ou “ilusão”, como no sentido – familiar sobretudo aos etnólogos, sociólogos e historiadores de religiões.
2- Desde os templos de Xenófanes, os gregos foram despojando progressivamente o mythos de todo valor religioso e metafísico. O mythos acabou por denotar tudo “o que não pode existir realmente”. O judeu-cristianismo, por sua vez, relegou para o campo da “falsidade” ou “ilusão” tudo o que não fosse justificado ou validado por um dos dois Testamentos.
3- Não é o estádio mental ou o momento histórico em que o mito se tornou uma “ficção” que nos interessa. Nossa pesquisa terá por objetivo, em primeiro lugar, as sociedades onde o mito é “vivo” no sentido de que fornece os modelos para a conduta humana, conferindo, por isso mesmo, significação e valor à existência. Compreender a estrutura e a função dos mitos nas sociedades tradicionais não significa apenas elucidar uma etapa na historia do pensamento humano, mas também compreender melhor uma categoria dos nossos contemporâneos.
4- Esses cultos proféticos e milenaristas proclamam a iminência de uma era fabulosa de abundância e beatitude. Os indígenas voltarão a ser os senhores de suas ilhas e não mais trabalharão, pois os mortos retornarão em magníficos navios carregados de mercadorias, iguais às cargas prodigiosas que os brancos recebem em seus portos. Um dos movimentos profetiza a chegada de Cristo a bordo de um navio cargueiro; outro aguarda a vinda da “América”. Uma